Pare um segundo, observe seu ambiente de trabalho e faça um exercício: tente identificar aquelas mulheres que agem como mães de uma equipe, ou aquela que age como a mediadora, ou a pessoa que tenta criar vínculos no time organizando eventos, ou aquela que é sempre a que escuta as reclamações de todos, compra presentes, lembra dos aniversários, tem dicas de comportamento, traz um bolo, ajuda alguém que ficou doente. Tenho certeza que alguns nomes específicos vieram a sua cabeça. Agora, observe: elas estão cansadas?
O conceito de "trabalho emocional" foi criado há mais de três décadas, na academia. Foi introduzido pela socióloga americana Arlie Hochschild, no livro “The Managed Heart”, de 1983 em uma pesquisa que tratou do trabalho emocional no ambiente profissional ou corporativo e de uns anos pra cá ganhou mais notoriedade nas redes sociais. Em um artigo de 2015 no jornal The Guardian, Rose Hackman explica como o trabalho emocional sobrecarrega mulheres no contexto familiar, conjugal e também profissional.
É interessante notar que o mesmo problema aparece de diferentes maneiras em diferentes âmbitos na vida de uma mulher, mas uma coisa é fato: se você assume esse trabalho emocional na sua empresa, é provável que você também faça isso no seu relacionamento amoroso e/ou familiar. Você já viu aquela mulher que é coach de carreira do namorado? Ou aquela que faz um papel de terapeuta do noivo, dando opiniões e ajudando nas questões mais emocionais? Quanta energia é colocada nesse trabalho?
Nas famílias esse conceito fica ainda mais evidente, considere por exemplo as recentes festas de final de ano, veja só, o natal é lindo... mas chega dia 26 e as mulheres estão exaustas. Lembre-se das suas festas de natal, quem liga e convence aquele tio afastado a participar da ceia? Quem facilita e apazigua uma situação de briga? Quem insisti na união e acolhe todos para que se sintam amados? É sempre uma mulher: você, sua mãe, sua tia, sua esposa... Além disso, tem o trabalho braçal, quem organiza e decora a casa? Quem cozinha o almoço e o jantar? Quem faz as preces? Quem organiza os amigos secretos? Quem compra os presentes? É claro que são as mulheres.
Hoje as mulheres trabalham tanto quanto os homens, estudam mais que eles, correm, lutam, sustentam filhos sozinhas, e ainda levam a responsabilidade emocional da família toda nas costas e isso é muito exaustivo. É cansativo ser a mulher que tentou mediar um conflito na sua família bem no meio da ceia de natal. Ser aquela que foi acalmar alguém que estava “puto”. Ou ser aquela que foi agradar alguém que não estava se sentindo amado, levando um presente ou um abraço. As mulheres carregam a carga emocional dos seus círculos de relacionamento, nas famílias e nos trabalhos, e não são nem reconhecidas nem remuneradas por isso.
Sei que existem muitas mulheres que acreditam fazer tudo isso por amor, por vocação ou por algum aspecto biológico. A provocação que eu trago para as mulheres é: por que você faz esse papel? É consciente? Você gosta mesmo desse papel ou você se acostumou com ele? Nada deveria ser uma obrigação, mas sim uma escolha. É hora de questionar esses papéis que as mulheres assumiram muitas vezes simplesmente porque os homens não queriam ou não sabiam fazer aquilo. Agora é hora de tomar consciência e escolher se você quer mesmo isso.
A gente precisa começar a tratar homens como indivíduos capazes da gestão emocional, gente que sabe o que está fazendo, que tem sua própria responsabilidade emocional (com si mesmo e com os outros). A provocação que eu trago para os homens: você está terceirizando o cuidado das suas relações? Você observa as questões abstratas do seu time? Você cuida da gestão emocional da sua equipe, ou família? Homens também deveriam cuidar das pessoas a sua volta, observar as relações, procurar sua terapia, entender seus sentimentos, e avaliar consequências dos seus atos, de evitar ou causar conflitos, de juntar ou separar pessoas, de cuidar os descuidar da equipe.
O trabalho que estamos falando aqui não é visível - ele é sutil, e pouco se fala sobre ele - é a energia gasta além do trabalho doméstico como as tarefas da casa, filhos e etc. E assim como o trabalho doméstico, o emocional não é remunerado - diferente do trabalho das áreas de recursos humanos que muitas vezes envolve questões abstratas mas pelo menos é profissional, planejado e remunerado. Alias, eu acho muito bacana pensar no trabalho emocional de maneira mais profissional, e ja existem diversas ferramentas, trabalhos e teorias pra tratar essas questões dentro da empresa. Eu falo um pouco delas em outro texto publicado em 2018 chamado "porque aprender a lidar com sentimentos pode ser a maior inovação da sua empresa esse ano".
Fica aqui a reflexão - quem faz o trabalho emocional na sua empresa? E na sua família?
Aqui na The Feminist Tea a gente pensa em soluções que também ajudem outras empresas a combater o machismo corporativo e se você trabalha em uma empresa que precisa dessa ajuda, faz parte de uma equipe de rh e precisa de uma lembrança que realmente valorize as mulheres nesse dia das mulheres, entre em contato com a gente pelo e-mail falecomadeusa@thefeministtea.com